O que é o homem?
Não sei ao certo como comparar, pois não há na terra ou no universo algo que se possa comparar a personalidade humana. Sei que hoje sua duração é extremamente curta, principalmente quando a pessoa é querida e brilhante - sua existência nunca é longa o suficiente.
Ultimamente, tenho me debatido muito sobre a validade de se lutar por manter uma identidade. Eu já com quase meio século de vida, acumulei uma vasta gama de conhecimento útil e inútil, que sinto uma necessidade dolorosa de compartilhar - minha natureza me impele a fazer isso. Acho que tenho vocação para ser bibliotecário, discotecário, videotecário ou mesmo museólogo. Infelizmente, percebo hoje que vivo numa era onde o saber ocupa espaço e tempo! Sim. Agora quando você tenta compartilhar um pensamento ou um sentimento - de duas uma: Ou você é louco ou não tem o que fazer. Hoje se fala de livro e museu com desdém, como se fossem fardos, pragas que atrapalham o desenvolvimento.
Se perdeu a noção do que é romance. O romance se tornou inválido, assim como o cavalheirismo se tornou cafona - chegando ao ponto de ser rotulado como uma forma de machismo "benevolente". Assim como ser quarentão e brincalhão, virou ser “canastrão”, e ser canastrão hoje é brega. Quem é quarentão não tem mais o direito de brincar. Seu humor não vale mais - está defasado.
Assim pensam alguns: — Ah, vá ser da maçonaria ou do “clube de bocha” onde é seu lugar! Quem vive de história é museu!
Mas nem sempre o que tenho pra compartilhar são coisas sem valor. As vezes é um aviso, um lembrete.
Criaram-se regras sobre compartilhamento de idéias. E hoje a menos que o que você tenha a dizer, venha trazer vantagem imediata pra quem ouve, ou seja um segredo que ninguém deveria saber, muitas vezes nem aqueles que se dizem seus amigos tem interesse em saber.
A geração atual não lê mais. Apenas assiste. Escrever e ler virou coisa do passado. Tudo é imediato, tudo é digital, tudo tem que ser on-line, tudo tem que ter uma foto, um som, e por ser imagem é tido como sendo de maior valor e subjetivamente como sendo a verdade.
Mas imagens enganam, assim como as aparências, e as mídias em que elas aparecem podem as manipular da forma que quiserem. E por isso muitos ao se depararem com questões como estas, chegam a conclusão de que NADA é mais verdadeiro, que NADA MAIS É REAL, e que só sua própria verdade é a que vale. E mesmo a verdade que seus amigos conversam com você, não tem validade - pois quando começam a falar parece que não tem a profundidade que você supõe ter do assunto, e aí o que fazem contigo? Mudam de assunto.
É triste. É solitário.
Por isso hoje cheguei a conclusão que, nestes últimos dias, a melhor coisa que existe pra quem tem experiência, é ter a família, ou amigos da sua idade.
Se tem amigos da geração atual - esqueça, eles não vão te entender, não falam sua língua.
Nossos filhos e nossos pais, são os únicos que tem interesse e prazer em saber quem somos nós. Principalmente nossos filhos. São os únicos a quem você pode contar um pensamento, uma piada, fazer uma brincadeira, pois são aqueles que falam sua língua. E que dão valor e tem curiosidade sobre o que você faz.
Como disse um senhor japonês idoso, ao ser perguntado sobre o que ele perdeu de valor durante a explosão da bomba de Hiroshima: ele disse que foram os amigos. Pois os amigos que você faz durante sua juventude são os que vão crescer com você e vão ter algo comum com você a vida toda. Ele perdeu seus amigos com a bomba e hoje no fim da vida não tinha com quem compartilhar suas lembranças.
Por isso hoje eu desabafo, com a mesma certeza de quem grita no espaço: MEU GRITO NÃO SERÁ OUVIDO. Só há um que sabe ao certo o que penso e porque, este é meu Deus que me deu a vida, e ele me compreende. Quanto aos outros que não são da minha família, cuidem bem da sua, cuidem bem dos seus amigos, pois estes são os únicos que vão dar valor aquilo que você tem a compartilhar e que te ouvirão se você GRITAR.
E se você me ver “gritando” por aí. Não critique. É normal. Amanhã você poderá estar “gritando também”.